Inobstante seja clara e cristalina a indispensável importância daqueles que, por imposição das circunstâncias ou por escolhas ou objetivos pessoais, saem dos seus países para viver noutras paragens, há cada vez mais nacionais portugueses — e não só — a repudiar os que por aqui chegam, preferindo enxergar neles ameaças imaginárias e infundadas.

A retórica é sempre a mesma: os imigrantes afetam a coesão nacional (se bem recebidos, eles tendem a se integrar cada vez melhor e mais rapidamente), causam insegurança nos cidadãos (os dados estatísticos desmentem tal falácia) e, em suma, põem em risco os valores e tradições da pátria receptora (num Estado que se declara constitucionalmente livre e laico não parece razoável impor crenças ou costumes).

Ora, trata-se da já repetida ladainha ultranacionalista que necessita eleger inimigos imaginários de modo a arregimentar e consolidar as suas hordas. Contudo, neste aspecto, alinho-me ao genial Nelson Rodrigues, que teria cunhado a célebre frase: “O nacionalismo é o último refúgio dos canalhas”.

É de se espantar que tal ambiente refratário aos imigrantes ganhe tanta força em Portugal. Para lá da importância indiscutível na manutenção do crescimento sustentável da economia portuguesa, parece que os lusitanos se olvidaram do espírito desbravador que sempre caracterizou historicamente o povo português. E não é de hoje. A História demonstra. São os portugueses emigrantes atemporais, ou já se esqueceu da Era dos Descobrimentos e mais recentemente das ondas migratórias para Luxemburgo, França, Canadá, Estados Unidos etc.? É ou não legítimo buscar melhores condições de vida? Ou somente alguns têm este direito? E, não se pode deixar de anotar, uma parte considerável desses imigrantes são descendentes dos nacionais daqui que foram para outras terras. O mínimo de dignidade e de consciência nacional obriga os portugueses a considerá-los irmãos.